Notícia de 09/07/2018 extraída do site do G1.
"A paquistanesa Malala Yousafazai, ganhadora mais jovem da história
a receber um Prêmio Nobel da Paz, disse na tarde desta segunda-feira (9), no
Auditório Ibirapuera, em São Paulo, que vai investir na educação do Brasil.
A ativista não deu detalhes sobre a parceria, mas adiantou que será anunciada
em breve. É a primeira vez que ela visita o país.
"A melhor forma de
melhorar a educação em qualquer país é fazer parcerias com as ativistas locais.
Vamos focar nas regiões que mais precisam, como o Nordeste do Brasil, mas
também vamos apoiar outras campanhas. Queremos trabalhar junto com vocês. Estou
aqui para aprender e usar o Fundo Malala da melhor maneira", disse para a
plateia formada por 800 convidados, em sua maioria estudantes e integrantes de
ONGS ligadas ao banco Itaú, patrocinador do evento.
A Fundação Malala apoia
projetos que lutam pela igualdade de gênero na educação em países da África e
da Ásia.
A ativista completa 21 anos
nesta quinta-feira (12) e se tornou símbolo mundial da luta pelo direito das
meninas à educação depois de sobreviver a um atentado cometido pelo Talibã.
Quando ela tinha 15 anos, foi baleada na cabeça ao voltar da escola onde morava
no Vale do Swat, no Paquistão. Na época, ela já defendia publicamente o direito
das meninas irem para a escola.
)
'Feliz de estar
aqui'
Na palestra em São Paulo, Malala
participou de um debate sobre educação, feminismo e política com a presença da
presidente do Instituto Alana, Ana Lucia Villela, da cientista política e
ativista pela educação Tabata Amaral, além da escritora Conceição Evaristo e de
Dagmar Rivieri, fundadora e presidente da ONG Casa de Zezinho.
Com os cabelos cobertos por
um lenço azul, fez questão de responder perguntas de alunos da rede pública que
estavam no palco, ressaltou o poder transformador da educação e das mulheres, e
elogiou a água brasileira. "É diferente da Inglaterra, me lembra o Vale do
Swat."
"Era um
sonho vir para o Brasil. Esse país é maravilhoso em termos de cultura e sinto
toda a energia positiva que vocês me dão [...] Sou mulçumana, venho de uma
terra muito distante e ao mesmo tempo me sinto em casa. Estou feliz de estar
aqui", disse.
Malala disse que está muito
empolgada com o trabalho que fará no Brasil e lembrou que os desafios na luta
por uma educação de qualidade e igualitária entre meninos e meninas não são só
"externos".
"Há desafios externos
como os que existem na sociedade, discriminação, pobreza, extremismo, mas
existem outros desafios, os internos porque subestimamos o poder da nossa voz.
Esse é o primeiro desafio."
Malala encorajou os
estudantes a lutar por direitos e mudanças, principalmente durante o período
eleitoral.
"Sei que
às vezes existe raiva ou falta de esperança, mas a sua luta e o seu ativismo
têm o poder de fazer mudanças. Vocês não devem esperar que alguém fale por
vocês. Vocês sempre têm de erguer suas vozes."
Quando perguntada se sente
raiva ou desejo de se vingar das pessoas que a atacaram, ela diz é a melhor
resposta é a educação. "Digo que a melhor maneira de me 'vingar' é pela
educação, educar todas as crianças do mundo, inclusive filhos e filhas dos que
me atacaram. E de alguma maneira estamos conseguindo isso."
Sobre ter
sonhos
Antes do compromisso oficial
nesta segunda, Malala almoçou e conversou com alguns convidados na sede do
Itaú, entre elas, a cientista política e ativista pela educação Tabata Amaral.
Tabata pediu a Malala que por
meio do seu trabalho na Fundação desse especial atenção à carreira do professor
que perdeu atratividade entre os jovens e é uma profissão pouco valorizada.
"Também
pedi que ela falasse aos jovens sobre a importância de ter sonhos e propósitos.
Nas escolas que visito vejo que quanto mais velhos os alunos, menos sonhos eles
têm."
Tabata também reforçou a
necessidade da criação de uma rede de mulheres ativistas "porque o caminho
é muito solitário." "Falamos bastante sobre educação e sobre como as
desigualdades, assim como nas guerras, podem causar mortes."
O ataque
No dia 9 de outubro de 2012, Malala foi alvo de um ataque a tiros por membros do Talibã. Ela
estava em um ônibus escolar com outras meninas voltando para casa depois de
mais um dia letivo, no Vale do Swat, onde morava no norte do Paquistão.
Aos 11 anos, ela escrevia com
o pseudônimo Gulmakai para um blog da BBC contando as dificuldades que as
meninas tinham para estudar no Vale do Swat. Mas, aos 15 anos, época em que foi
baleada, já defendia publicamente o direito à educação para as meninas. Os
radicais do Talibã acreditavam que a educação das meninas era uma afronta ao
islamismo e destruíram centenas de escolas.
Baleada na cabeça, Malala
sobreviveu ao atentado, que chocou o Paquistão, mesmo com a onda de violência e
repressão por parte dos militantes do Talibã. Ela foi retirada do país com sua
família e levada ao Reino Unido. Os médicos retiraram a bala de seu cérebro.
Malala se recuperou, mas não retomou os movimentos do lado esquerdo do rosto e
perdeu a audição do ouvido esquerdo.
Desde então mora na
Inglaterra, onde retomou os estudos no ensino médio. Em 2017, cinco anos após o
atentado, ela ingressou na Universidade de Oxford para estudar filosofia,
política e economia.
Símbolo mundial
O atentado contra Malala a
projetou internacionalmente. Dois anos depois do Talibã ter tentado matá-la, em
2014, quando tinha 17 anos, ela se tornou a pessoa mais jovem da história a
receber um Nobel de Paz. Naquele ano ela dividiu o prêmio com o indiano Kailash Satyarthi.
Antes, em 2013, estampou a capa da revista Time, como uma das 100
pessoas mais influentes do mundo. Em julho do mesmo ano, no seu aniversário de
16 anos, fez um discurso na Organização das Nações Unidas (ONU) que repercutiu
no mundo todo.
"Os terroristas pensaram
que eles mudariam meus objetivos e interromperiam minhas ambições, mas nada
mudou na vida, com exceção disto: fraqueza, medo e falta de esperança morreram.
Força, coragem e fervor nasceram", disse.
Outra frase do seu discurso
foi: "nossos livros e nossas canetas são nossas armas mais poderosas. Um criança,
um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo."
Malala lançou uma biografia,
um documentário e criou sua própria Fundação que apoia ativistas que defendem o
direito de todas as meninas à educação. Seu trabalho humanitário a levou a
diversas partes do mundo onde esse direito é ameaçado. Já foi recebia pela
Rainha Elizabeth e pelo então presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.
De volta ao
Paquistão
Neste ano, no dia 28 de março, ela voltou ao Paquistão pela
primeira vez desde que sofreu o ataque dos talibãs há seis anos. Cercada por um
forte esquema de segurança, ela visitou o Vale do Swat por apenas poucas horas.
"Quando eu não voltei
para casa da escola naquele dia em 2012, minha mãe se perguntou se eu um dia
veria meu quarto de novo, se ela um dia teria um momento quieto com sua filha
em nossa casa", disse. "Ver-me ali deixou minha mãe tão feliz. Ela
disse: 'A Malala deixou o Paquistão com os olhos fechados, agora ela retorna
com os olhos abertos'."
https://g1.globo.com/olha-que-legal/noticia/em-evento-em-sp-malala-promete-investir-na-educacao-do-brasil.ghtml
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